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Se non è vero, è bem trovato

Cresci entre descendentes de italianos, e sou um deles. Ouvi esse ditado toda a minha vida – se não é verdade, é bem possível, ou bem concebido. Lembrei-me dele ao assistir em detalhes o pênalti que tanta confusão causou no jogo entre Flamengo e Independientes, final da Copa Sul Americana. Devo esclarecer que sou flamenguista, apoio a iniciativa de usar a tecnologia para dirimir dúvidas da arbitragem nos jogos e estou ciente de que isso não irá eliminar a possibilidade de erros. Errare humanum est, e não há máquina que irá eliminar isso.


No caso específico do pênalti, para mim foi claro que o juiz poderia ter marcado ou não. O jogador do Flamengo não teve intenção de derrubar, e isso na hora foi possível verificar; o jogador argentino, involuntariamente ou por malícia mesmo, tropeçou em sua própria perna; e o braço do jogador do Flamengo não era suficiente para desequilibrá-lo. Mesmo porque se o contato de braços naquelas condições, dentro da área, for penalizado, a FIFA deverá abolir os cruzamentos feitos nas cobranças de escanteio. Mas a tecnologia confirmou. E isso não vem ao caso. A única coisa que fica é o erro do jogador do Flamengo.


Ah! Os jogadores argentinos são cheios das manhas? Isso todos sabem, sempre, e com razões. Mas futebol não é feito apenas de dribles e gols; futebol é manha, é cera, é competência para desestabilizar emocionalmente o adversário... por exemplo, no jogo em que o Fluminense ganhava do Flamengo por 3 x 1 e cedeu o empate que o desclassificou, muitos torcedores diziam: ‘o Flamengo fez muita cera’. Ora, quem joga com o tempo ao seu favor administra como pode. Houve uma Copa América na qual a seleção argentina fez isso e perdeu a copa aos 45 do segundo tempo por vacilo. Quem se lembra do gol do Imperador? O Independientes fez isso com competência, e desestabilizou o time do Flamengo. Mérito deles. O Flamengo entrou nervoso, e isso era perceptível nas expressões dos jogadores durante a execução do hino.


Ora, ora! O jogador argentino usou de esperteza para simular sua queda? Isso é papel dele. O papel do juiz é verificar e puni-lo se assim entender que ele procedeu. E o papel do jogador do Flamengo, ali, seria não dar a ele a oportunidade de simular. Isso é competência. Até porque era uma bola perdida. O Flamengo tinha, de forma aparente, mais time que o adversário. Mas este foi mais organizado, mais tranquilo, mais objetivo. A primeira lei do futebol adverte: quem não faz, leva. Um time com o custo do Flamengo neste ano não pode se dar ao luxo de perder cinco ou seis gols primários como fez. Um time de estrelas internacionais não pode fazer isso pois o castigo é certo. Foi pênalti? Não acho. O juiz errou? Não acho. Marcou o que viu e o que a arbitragem digital, na hora, conseguiu ver. Foram todos desonestos? Não creio. E se foram, o Flamengo não perdeu por isso. Perdeu porque não mereceu ganhar. Não apresentou futebol.


E agora, 2018? Vamos vender o Paquetá ou o Lincoln, ou os dois para comprar mais estrelas bichadas? Se non è vero, è bem trovato. Nossos diretores têm se mostrado pouco sensíveis às mudanças no futebol brasileiro. E a ideia de futebol no Brasil não é fomentar talentos, é produzir mercadorias para o mercado externo. Os torcedores deveriam reagir, não com violência. Basta deixar de ir aos jogos. E manifestar claramente porque o fazem. Isso é torcida organizada. As torcidas do Galo e do Corintians já iniciaram alguns movimentos de expressão política bem maior que a violência.


Triste trópico!

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